segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

A AUTORIZAÇÃO


 


A AUTORIZAÇÃO


No desconforto impessoal

do exílio que lhe é imposto

pelo inóspito hospital,

no vão entre o lanche e a janta

— refeições de gosto igual —,

limpa a garganta e pergunta:

‘Eu posso cantar, meu filho?’

Mãe, só pode! Canta! Canta!

Dedilhando no ar o piano,

saltando aqui um estribilho,

ali um verso, se solta,

a plenos pulmões, por horas,

quase sem pausa, apesar

dos pulmões plenos de danos:

tango argentino, fox, hino

e fossas e bossas de

nossa canção popular.

Uma, de um compositor

morto por mal pulmonar,

diz: “Meu último desejo

você não pode negar”.


Jorge Emil

Em memória de Nazira Habib Cury Fernandes (17/10/1932-23/12/2021)

terça-feira, 16 de novembro de 2021

ANNO DOMINI 2021



ANNO DOMINI 2021


Depois de extintos os trinta anos de acinte

que senti ao longo do século vinte,

pensei: ‘Não é possível que essa mesma onda

vá se repetir em data tão redonda

como a introdução ao milênio seguinte.’

 

Foi diferente! De repente, mais bode,

mais brado, mais bodum. Penso agora: ‘Pode

ser por isso que me recuso há vinte e um

anos a ingressar no século vinte e um.’

 

Além do mais, sempre há quem me desaprove,

considerando praticamente um crime

que hoje em dia ainda eu metrifique e rime.

Clique: ‘Sou é do século dezenove.’

 

Poema inédito de Jorge Emil (2021)


segunda-feira, 16 de novembro de 2020

 






É UM CONSELHO
que me concedo
 
em meio às perdas
em meio século:
 
não sendo verde
nem bem um velho,
 
não sendo cedo
nem muito tarde,
 
não sendo lerdo
nem gênio: médio,
 
que eu dome o medo
de ser covarde
 
e em segredo
e sem alarde
 
e bem alerta
à qualidade
 
corte as metas
pela metade.


Poema inédito de Jorge Emil (2020).

quinta-feira, 20 de junho de 2019

5 poemas de Jorge Emil publicados no "Suplemento Literário de Minas Gerais", nº 1.379, julho/agosto de 2018


5 POEMAS DE JORGE EMIL 


(Publicados no Suplemento Literário de Minas Gerais, nº 1.379, julho/agosto de 2018)



EDIFÍCIO PSÍQUICO

A Inveja é só vileza. Veja que desonesta:
à espera da ocasião, ela espreita pelas frestas
do porão, sempre prestes a enfiar a mão
ao nível da rua e causar o tropeção, o berro,
a queda no barro e a cara no chão. No térreo,
a Misantropia filtra e barra, porteiro férreo;
ninguém entra, ninguém tenta, sem autorização.
Luxúria abriu um café de luxo na sobreloja,
para onde a Gula foge e dissipa suas posses.
A Dor, espécie de inspetor em transe, transita
incessante pela escada, e não pelo elevador,
tentando desfalecer de exaustão e estupor
(por motivo de peso excessivo da Preguiça,
elevadas vezes esse elevador enguiça).
Em seu andar, o Orgulho pisa em falso, dança valsas
ou então pega pesado e marcha, muito macho;
não recebe reclamações do vizinho de baixo,
porque ele é o Medo, chefe da segurança.
A Coragem nunca obtém nem vaga na garagem,
porém o Ódio, aquartelado em quatro pisos,
quebra de quando em quando o quadro de avisos.
É pena que ninguém se veja na penumbra, cruzes!
A Avareza esmaga despesas quando apaga as luzes.
No canto mais escuro do quartinho de limpeza,
o que lampeja talvez seja a Compaixão, que dó!,
entre o balde, o alvejante e o sabão em pó.
O Amor cuida da carga de cada extintor
e das saídas de emergência, enquanto a Culpa
ocupa a cúpula, de onde a tudo administra,
desfrutando uma vista muito vasta e sinistra.





HIPÓTESE

Olhar o chão do banheiro
é pensar que o pesadelo
é pensar que o mundo inteiro
pode acabar em cabelo,
mais do que em fogo ou em gelo.

Vento revolve o terreiro.
Vai-se formando um novelo
que sai rolando, ligeiro.
(Mais de três milhões de pelos
em uma só cabeleira!)

Abre-se o sétimo selo.
O camelo passa pelo
buraco da agulha e ei-lo
sobre um fio de cabelo
entre zilhões no palheiro.





COMO SE NÃO

Contando com os acréscimos,
crescemos, quem sabe, décimos.
Mas, como se não soubéssemos
que não passamos de péssimos,
prosseguimos sereníssimos,
sabendo que, em suma, somos
como se não existíssemos.





RECURSOS ENERGÉTICOS DE EMERGÊNCIA

O esqueleto estagnado em sua área
esqueceu qual é o jeito de andar e a
vista não reconhece nem cor primária.
Já não existe miséria que altere o
que o cérebro expulsou para o espaço aéreo.
Mas, até que um prodígio cure-a, ou fure-a,
que fonte de força ainda é a fúria!
É necessário evitar que se evapore o
volume morto desse reservatório
de águas passadas sobre o pior da história
pra que o olho chore a mágoa e explore-a
ao máximo. A mágoa mantém a memória.





O SEGUNDO COLOCADO É O PRIMEIRO PERDEDOR,
o número 1 da Fórmula 1 formulou,
é forçoso admitir, com muito humor.
Sim, só dá pé pra quem está na dianteira.
A todo o resto, o que se dá é pé na bunda.
Quisera ser profundamente de primeira.
Sou, porém, primordialmente de segunda,
segundo o veredicto de um terceiro
que se crê terceirizado e autorizado
por algum tribunal da trindade divina,
também tratada como divindade trina,
una e velha como esse velho e bom
aparelho de som do tipo 3 em 1
a tocar bem alto o quarteto de cordas
que te põe de quatro mas a mim me acorda
e me encoraja a querer cobrar o quinto
lá nos infernos de quinta categoria
onde o sexto sentido acusa que há
meia dúzia de bichos de sete cabeças
julgando-se legião e jurando guardar
um sétimo céu muito além de sete palmos.


segunda-feira, 7 de setembro de 2015

REMINDERS


Translated from the Portuguese
by Ellen Doré Watson 


Hi, death. No way could I forget you.
Just as I enter the store—to buy a present, have it wrapped—
the body exits, wrapped in silver, between EMTs,
under the same rain that helped throw down the plane on top of the city,
those come from air mixing with those laboring on the earth.
These gifts and warnings, from you to me.
Unnecessary, O needy one: behind
momentary comforts, laughter and distractions,
there you are, occupying the oceans’ place in the heart you will eat.

Jorge Emil

*********

LEMBRETES

Oi, morte. Vê lá se eu me esqueceria de ti.
Da loja onde entro — comprar o presente, embrulhá-lo —,
sai o corpo embrulhado em papel prata entre bombeiros,
sob a mesma chuva que ajudou a arrojar o avião sobre a cidade,
os que vinham do ar misturando-se aos que em terra mourejavam.
Esses são presentes e avisos, que me dás.
Nem era preciso, ó carente: por detrás
do conforto transitório, dos risos e distrações,
continuas ocupando o lugar dos oceanos no coração que vais comer.


Jorge Emil, em O olho itinerante (2012)







terça-feira, 21 de julho de 2015

LUDWIG E SUAS IRMÃS no Centro Cultural São Paulo, abril/maio de 2015 — Texto de Thomas Bernhard — Direção e cenário de Eric Lenate — Iluminação de Aline Santini — Figurinos de Rosangela Ribeiro — Com Cléo De Páris, Jorge Emil e Lavínia Pannunzio — Produção: Gelatina Cultural — Fotos de Leekyung Kim.




 Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)


 Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)


  Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)


 Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)


 Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)


 Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)


 Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)


 Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)


 Lavínia Pannunzio e Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)



 Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)


 Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)


Lavínia Pannunzio e Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)


  Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)


 Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)


 Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil, Lavínia Pannunzio e Cléo De Páris em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)


  
Jorge Emil, Lavínia Pannunzio e Cléo De Páris em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil e Cléo De Páris em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil e Lavínia Pannunzio em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil e Lavínia Pannunzio em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)


Jorge Emil e Lavínia Pannunzio em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)


Jorge Emil e Lavínia Pannunzio em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)



Jorge Emil e Lavínia Pannunzio em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)


Jorge Emil e Lavínia Pannunzio em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)


Jorge Emil e Lavínia Pannunzio em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)


Jorge Emil e Lavínia Pannunzio em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)


 Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)



 Jorge Emil e Cléo De Páris em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)


Lavínia Pannunzio e Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)


Lavínia Pannunzio e Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)


Lavínia Pannunzio e Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)


Lavínia Pannunzio e Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)


Lavínia Pannunzio e Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)


Lavínia Pannunzio e Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)


Lavínia Pannunzio e Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)


 Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)


 Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

             
                 Jorge Emil e Cléo De Páris em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015) 



 Jorge Emil e Cléo De Páris em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)



 Jorge Emil e Cléo De Páris em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)


 Jorge Emil e Cléo De Páris em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)



 Jorge Emil e Cléo De Páris em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)


  Jorge Emil e Cléo De Páris em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)

  
Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)


                                Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)



  Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)


 Jorge Emil em Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard (2015)