A AUTORIZAÇÃO
No desconforto impessoal
do exílio que lhe é imposto
pelo inóspito hospital,
no vão entre o lanche e a janta
— refeições de gosto igual —,
limpa a garganta e pergunta:
‘Eu posso cantar, meu filho?’
Mãe, só pode! Canta! Canta!
Dedilhando no ar o piano,
saltando aqui um estribilho,
ali um verso, se solta,
a plenos pulmões, por horas,
quase sem pausa, apesar
dos pulmões plenos de danos:
tango argentino, fox, hino
e fossas e bossas de
nossa canção popular.
Uma, de um compositor
morto por mal pulmonar,
diz: “Meu último desejo
você não pode negar”.
Jorge Emil
Em memória de Nazira Habib Cury Fernandes (17/10/1932-23/12/2021)