Contudo, ainda sou capaz
de ler revista feminista no dentista
e jornal cultural no recital.
Me conte quantas vezes você pulou da ponte.
Afora ir longe com um tapa, só faço viagens através do mapa.
2 da manhã; estou persuadido
de que não há amor; mas aí
um parente tosse no quarto ao lado.
Eu tu ele e ah bem nós vós eles mas em
verdade ninguém. Mundo louco, não sei
se estás todo oco ou se está tudo
OK. Que entusiasmo: breve serei fantasma.
Sou ruim sim — ó minha cópia
infinitamente melhor que eu próprio.
Sofri o acidente, estou cego?, quero
ser o líder. Rebolou demasiado acabou
perdendo o rebolado. Não sei por que cargas
d’água quase morri de sede.
A minha ótica, longe de ótima, é patética.
Descompreendo a coisa enfática — tu sem migo, eu
sem vosco... Erro tosco de gramática, de amor.
Descoberta um dia
a fonte de toda angústia a fonte de toda
angústia de descobrir.
Eu já devia ter partido... Não houve jeito:
sobrevivi. A culpa é do comprimido.
Do livro O dia múltiplo, de Jorge Emil, Editora Bom Texto, 2000
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