terça-feira, 3 de março de 2015

[VIN]GAI[-]A


E, enfim, de fato estamos no deserto.

A metáfora mudou-se em metástase,

um cancro completamente concreto.

Exposta ao total escárnio filial

(à vaia desvairada de bilhões,

à laia deslavada no poder),

é fatal que Gaia caia na rede

da mágoa, transformando este local,

afinal, em sede de nossa sede.

O futuro, no duro, é isso aí.

Privada suja, louça acumulada,

sugar as tetas da Mãe Terra — e nada,

nem sequer uma lama seca e negra.

Era isso o tal progresso. Egressos da água,

até a água agora nos é negada.


Poema inédito de Jorge Emil (2015)