domingo, 1 de novembro de 2009

Cortina


‘O ritmo frenético da metrópole’,
chavão! e salvação de milhões.
Pequenos lugares calmos
tiram as armas da alma.
No ‘corre-corre desumano
do assombroso caos urbano’,
turva-se o horizonte
propenso à contemplação
de nosso imenso desterro.
Estresses são estímulos,
dissímulos do verdadeiro
(e descansado) desespero.

Do livro Pequeno arsenal, de Jorge Emil, Editora Bom Texto, 2004

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Transferência


O ônibus lotado
é uma alegria intermediária.
Maior prazer
será descer e pagar
— sem poder —
tantas altíssimas contas
debaixo de um sol imoral!
A praga que me rogaram
tem sabor de fruta fresca.
E amorosamente
espero a febre, o assalto.
Fui agraciado com a leitura de um mau livro
da grossura de uma árvore
caindo sobre mim.
Ileso, pus o poema
pra sofrer em meu lugar.


Do livro Pequeno arsenal, de Jorge Emil, Editora Bom Texto, 2004

domingo, 26 de abril de 2009

Caça ao tesouro


Comum. Plebeu.
Um metro e
oitenta e um.
Podre de pobre.
Sempre deveu —

por isso, cobra:
acesso às cifras
e à cor do cobre!
Grita e se dobra.
E sofre e sofre.

Senha e cifra,
o sofrimento
obra, fabrica
a chave que abre
o cofre da cripta.


Do livro O olho itinerante, de Jorge Emil, Editora Record, 2012